terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Queda sem precedentes em doações de sangue coloca bancos em alerta no Brasil e no mundo

 BBC Brasil

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Fundação Pró-Sangue, em São Paulo, diz que estoque de

 alguns tipos de sangue está no nível emergencial

Em feriados prolongados ou de meses de férias, como janeiro, é comum que os estoques fiquem mais baixos no banco de sangue da Fundação Pró-Sangue, que abastece mais de cem hospitais da região metropolitana de São Paulo com suprimentos essenciais para salvar a vida de vítimas de acidentes, pacientes em tratamento ou com complicações de saúde.

Mas a médica Helena Sabino nunca viu uma escassez tão longa quanto a vivida atualmente.

"Se é uma crise sem precedentes? Acho que sim. Porque já tivemos crises piores (de falta de sangue), mas pontuais, de curta duração", diz a médica à BBC News Brasil. "Neste ano está bem mais difícil para bancos públicos e privados de sangue. Todo mundo está restringindo o que se usa em transfusões."

No dia em que conversou com a reportagem, em 31 de janeiro, todos os tipos negativos de sangue estavam em nível emergencial - o nível mais crítico - na Fundação Pró-Sangue.

A meta do órgão (ligado ao governo paulista) é coletar mensalmente em torno de 9,5 mil bolsas de sangue, mas o mês de janeiro se encerrou com uma coleta em torno de 8 mil bolsas.

E se a situação é delicada na Fundação Pró-Sangue (que é referência no país e tem seis postos para atendimento a doadores), o problema tende a ser ainda mais agudo em bancos de sangue menores.

"Alguns hospitais que tinham seus próprios bancos de sangue têm nos procurado" por estarem sem estoque, agrega Sabino.

A médica ressalta que, até o momento, nenhum paciente deixou de ser atendido por causa da escassez atual na Grande São Paulo.

"Mas se você (hospital) me pede fornecimento, nós temos que fornecer com restrição. Se tenho 50% de estoque, vou atender com 50% do que me pedem e daí avaliar as demandas caso a caso, a pedido dos hospitais. Temos de orientar os médicos a não usarem quando o paciente puder esperar. É mais trabalhoso e tudo fica mais vulnerável."

Doações caíram na pandemia

Logo no início, em 2020, a pandemia de covid-19 fez caírem muito as doações de sangue, em um momento em que as pessoas tinham mais medo de sair de casa e evitavam ao máximo buscar unidades de saúde.

"Mas, apesar dessa queda drástica, o consumo de sangue estava mais restrito, porque não havia tantos acidentes de trânsito e o paciente de covid-19 não usava tanto sangue, só quando tinha complicações mais sérias", detalha Sabino.

Agora, porém, com a volta da circulação das pessoas, dos acidentes de trânsito e das cirurgias (muitas das quais estavam represadas), o consumo voltou a crescer - mas as doações continuam em um patamar aquém do ideal.

Com o agravante do avanço da variante ômicron, que fez o Brasil bater sucessivos recordes de novas infecções diárias pelo coronavírus e dificultou as doações de sangue - pessoas com diagnóstico ou suspeita de covid-19 têm de se isolar e esperar dez dias após sua recuperação completa para doar sangue, segundo norma do Ministério da Saúde (veja mais detalhes sobre como doar ao fim da reportagem). 

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Pandemia fez cair a doação de sangue em diversos países, inclusive no Brasil

Ou seja, a demanda por sangue voltou a crescer no país, mas a oferta não tem conseguido acompanhar esse crescimento.

'Crise nacional' de falta de sangue nos EUA

A queda de doações de sangue por conta da pandemia tem sido observada em vários países.

No Reino Unido, em outubro de 2021, o centro de sangue e transplantes do sistema de saúde público britânico (NHS) acendeu alerta depois de o suprimento ter caído para níveis "críticos". Na Escócia, por exemplo, o número de doadores era o mais baixo em todo este início de século, segundo dados de dezembro.

Mas é nos Estados Unidos que o problema se converteu em uma crise nacional - e uma das mais graves da história recente, resultando em remarcação forçada de cirurgias, fechamento temporário de centros médicos para novos pacientes e adiamento de tratamentos vitais.

A situação é tão complicada que, na segunda semana de janeiro, a Cruz Vermelha americana, que fornece 40% dos hemoderivados utilizados pelos centros médicos do país, declarou pela primeira vez na história uma "crise nacional" por falta de sangue.

Em comunicado com os Centros de Sangue dos Estados Unidos e a Associação para o Avanço do Sangue e Bioterapias, a organização humanitária declarou que alguns hospitais só tinham fornecimento de certos tipos de sangue por menos de um dia, o que constitui "um nível perigosamente baixo".

"Se o suprimento não se estabilizar em breve, o sangue que salva vidas pode não estar disponível para alguns pacientes quando eles precisarem", alertou a Cruz Vermelha.

De acordo com dados oficiais, desde março do ano passado houve uma queda geral de 10% nas doações de sangue em todo os Estados Unidos, enquanto uma diminuição de 62% foi relatada nas campanhas de doação em escolas e universidades.

Como explica a médica Emily Coberly, especialista em hematologia da Cruz Vermelha americana, desde o ano passado os hospitais têm recebido menos sangue e, atualmente, até um quarto da demanda hospitalar não pode ser atendida.

"Chegamos a um ponto em que os médicos precisam decidir todos os dias quais pacientes recebem uma transfusão e quais não não vão receber. E isso é de partir o coração", diz.

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EUA vivem uma grave crise no sistema de saúde por conta da escassez de sangue

"As cirurgias estão sendo canceladas às vezes no último minuto. Há pessoas que têm câncer que precisam de uma transfusão e estão sendo mandadas para casa sem recebê-la. Há centros de trauma que estão chegando ao ponto de esgotar suas reservas de emergência para casos como um paciente que chega gravemente ferido, com sangramento após um acidente, ou alguém com hemorragia pós-parto", diz Coberly.

Esse foi o caso do Harbor-UCLA Medical Center, na Califórnia, que, no mês de janeiro, chegou a precisar deixar de internar pacientes por mais de duas horas por falta de sangue, algo que, segundo autoridades locais, nunca tinha acontecido em 30 anos de existência do hospital.

'Uma tempestade perfeita'

Segundo Coberly, várias circunstâncias coincidiram para o agravamento do problema, criando "uma tempestade perfeita".

"O mês de janeiro (inverno no hemisfério Norte) costuma ser uma das épocas mais difíceis do ano para se coletarem hemoderivados suficientes para atender às necessidades dos pacientes. Além disso, doenças sazonais, como a gripe, deixam os doadores temporariamente incapazes de doar sangue", diz ele.

"Desde março de 2020, como resultado da covid-19 e do lockdown, vimos um declínio na participação de doadores. E também enfrentamos desafios como o cancelamentos de doações de sangue e limitações de funcionários para executá-las", diz a médica Jennifer Andrews, diretora do banco de sangue do Vanderbilt University Medical Center, à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Já Ellen Klapper, diretora de Medicina Transfusional e Serviços de Doação de Sangue do Hospital Cedars-Sinai, na Califórnia, acrescenta que o aumento nas infecções pela variante ômicron complicou ainda mais o cenário.

"Este último aumento de casos e a natureza generalizada das infecções atuais realmente viraram tudo de cabeça para baixo. E isso porque os doadores não estão apenas doentes, mas podem estar em casa cuidando de familiares que estão doentes, isolados ou em quarentena", explica.

Coberly ressalta que já ocorreram outras crises por dificuldades em responder à demanda por sangue, mas as circunstâncias fazem do momento atual um dos mais críticos.

"É verdade que de vez em quando sentimos falta de sangue, mas temos estratégias para minimizar o impacto nos pacientes durante o período em que a oferta é limitada ou curta, com o mínimo de interrupção (no fornecimento)", explica.

"A diferença agora é que a escassez é mais grave e prolongada. Foram meses sem conseguir atender a demanda hospitalar, o que levou a esta circunstância realmente grave. Estamos limitando a quantidade de sangue que vai para os hospitais."

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Com a crise, hospitais precisam escolher qual paciente vai receber sangue

Andrews ressalta que a falta de sangue, juntamente com infecções por covid entre os funcionários, levou seu hospital, o principal centro de trauma da região de Nashville, a ser forçado a cancelar cirurgias.

"A situação aqui é terrível: temos que tomar decisões individuais sobre os pacientes não apenas todos os dias, mas várias vezes ao dia", conta.

Ao contrário de outros tratamentos em que é possível mudar a estratégia ou o medicamento, "não há alternativa ao sangue".

"Sou hematologista pediátrica e, às vezes, quando um de meus pacientes precisa de uma transfusão de glóbulos vermelhos, mas não tenho o suficiente para dar a ele, os parentes me perguntam: 'Você pode prescrever algo diferente?'", explica.

"Não há mais nada que eu possa prescrever, infelizmente. Então eles só precisam esperar até que tenhamos sangue suficiente", acrescenta.

Controvérsia

Nos EUA, o fato de que, embora as doações sejam voluntárias e não remuneradas, distribuidores e processadores como a Cruz Vermelha vendam o sangue para hospitais é um tema frequente de discussão em fóruns e redes sociais.

Os EUA têm uma poderosa indústria de plasma sanguíneo: os americanos fornecem dois terços do plasma usado em todo o mundo, em um mercado avaliado em US$ 24 bilhões (R$ 131 bilhões).

"A Cruz Vermelha é uma organização sem fins lucrativos e não lucramos com a coleta de sangue de doadores voluntários", diz Coberly.

"Os hospitais nos pagam por unidades de sangue, com as quais cobrimos o salário dos trabalhadores associados às doações, o custo da análise e processamento do sangue e todo o trabalho envolvido na coleta dessas unidades", afirma.

Outro ponto é que as autoridades federais não permitem a doação de sangue de homens gays que tenham relacionamentos com outros homens e uma vida sexual ativa (no Brasil, o Supremo Tribunal Federal derrubou em 2020 a restrição que proibia homossexuais de doar sangue).

A proibição nos EUA, que ainda vigora quase 40 anos após o início da epidemia de HIV, foi revisada no ano passado e reduziu a "quarentena" sem atividade sexual que é exigida para a doação de sangue. Antes, era um ano e, agora, são três meses. Porém, os motivos para a alteração não foram muito bem explicados pela comunidade científica.

"Certamente há evidências e razões científicas para mudar essas regras. Pessoalmente, não acho que essas regulamentações tenham acompanhado a ciência", diz Kappler.

Apelo à sociedade 

CRÉDITO,RODRIGO NUNES/MINISTÉRIO DA SAÚDE

Pessoas que tiveram covid-19 têm de esperar dez dias

 após fim de sintomas para doar sangue

Os especialistas consultados pela BBC News Mundo acreditam que a crise nos EUA pode durar semanas ou até meses, e que pode ter um impacto grande no sistema de saúde americano, já enfraquecido pelo aumento de internações por casos de covid.

Klapper lembra que doar sangue é um gesto anônimo que salva vidas.

"Vemos isso nos hospitais todos os dias. Com um gesto como esse, outra pessoa pode ser trazida de volta à vida. Damos a vida, salvamos o outro quando lhe damos um pouco do nosso sangue", diz.

De volta ao Brasil, outros bancos de sangue, como o Hemocentro de Brasília, também registraram queda de 23% nas doações na primeira semana de janeiro - atribuída ao aumento nos casos de covid-19 e de influenza.

No ano passado, o Ministério da Saúde calculou que, ao longo de 2020, primeiro ano da pandemia, as doações de sangue caíram 10% em todo o Brasil. Mas o remanejamento de bolsas de sangue entre os diversos Estados impediu que houvesse escassez, segundo a pasta.

Em nota em 28 de janeiro deste ano, o ministério afirmou que, entre janeiro e setembro de 2021 houve uma ligeira alta (de 4%) nas doações em relação ao mesmo período de 2020. Mas advertiu que períodos de férias, como inícios de ano, são de alerta, já que as doações ficam mais escassas, mas acidentes e complicações de saúde "não param de acontecer".

Uma única doação é capaz de salvar até quatro vidas, informa a pasta.

"Hoje cerca de 1% a 2% da população brasileira é doadora de sangue. Se dobrássemos isso para 4%, ficaríamos em situação muito mais confortável", diz Helena Sabino, da Fundação Pró-Sangue.

Como doar sangue

Para ser doador de sangue no Brasil, é preciso ter entre 16 e 69 anos e pesar a partir de 50 kg e estar em boas condições de saúde (veja mais pré-requisitos e restrições aqui).

Vacinados contra a covid-19 podem doar - basta aguardar dois dias depois da dose mais recente da CoronaVac ou sete dias dos demais imunizantes.

Quem tem diagnóstico ou suspeita de infecção pelo coronavírus e apresente sintomas, mesmo que leves, só deve doar depois de estar plenamente recuperado por dez dias.

Assintomáticos que tenham testado positivo para a covid-19 também têm de esperar dez dias. Quem teve contato com pessoas que testaram positivo devem esperar sete dias, contados a partir do último dia desse contato.

Em São Paulo, a Fundação Pró-Sangue tem seis postos para atender doadores (apenas sob agendamento online) na capital paulista e região metropolitana. É possível doar também em hospitais públicos e privados de todo o país que tenham bancos de sangue próprios.

Com reportagem de Paula Adamo Idoeta, da BBC News Brasil, e Lioman Lima, da BBC News Mundo


Como a fome deixa 19 milhões de brasileiros mais vulneráveis à covid-19: 'Não há sistema imune que resista'

 Cristiane Martins

De Londres para a BBC News Brasil

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A fome, que crescia no Brasil na última década, acabou se agravando na pandemia

"Quem quer que tenha sido o pai de uma doença, a mãe foi uma dieta deficiente", diz o médico Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), em referência a um lema da nutrologia.

A falta de alimentos em quantidade e qualidade nutricional suficientes pode acarretar em crianças danos neurológicos, problemas de saúde mental, queda no rendimento escolar, diabetes, obesidade, hipertensão e maior vulnerabilidade a doenças infecciosas como a covid-19.

A fome, que crescia no Brasil na última década, acabou se agravando na pandemia. Em 2020, 19 milhões de pessoas viviam em situação de fome no país, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil. Em 2018, eram 10,3 milhões. Ou seja, em dois anos houve um aumento de 27,6% (ou quase 9 milhões de pessoas a mais).

A Unicef (braço da ONU voltado para crianças e adolescentes) afirmou que, no mundo, "6,7 milhões de crianças menores de cinco anos podem sofrer definhamento (baixo peso para a altura) — e, portanto, tornar-se perigosamente subnutridas — em 2020 como resultado do impacto socioeconômico da pandemia de covid-19".

O fechamento das escolas em grande parte do país também levou a interrupções da merenda escolar, fundamental na alimentação de parte dos alunos da rede pública. Sem falar da inflação, que corroeu o poder de compra da população, principalmente de alimentos pela parcela mais pobre.

O impacto é também imunológico. A piora na alimentação de muitos brasileiros na pandemia tem impacto direto, segundo estudos e especialistas, na capacidade do corpo de combater invasores como o Sars-CoV-2. E por muito tempo.

Um estudo recente da Universidade da Califórnia sobre a prevalência de doenças crônicas no Brasil apontou que adultos que passaram fome na infância tinham maior probabilidade de desenvolver diabetes e osteoporose décadas depois.

A BBC News Brasil explica abaixo o que é a fome e qual foi o impacto dela durante a pandemia no prato e no sistema imunológico de milhões de brasileiros.

O impacto da fome no sistema imunológico

Uma dieta equilibrada é fundamental para o sistema imunológico do corpo humano, embora ela por si só não seja capaz de prevenir doenças infecciosas como a covid-19. O que comemos afeta diretamente seu funcionamento e, por isso, como nos sentimos.

Para entender esses mecanismos, é preciso primeiro entender como a fome física é ativada e inibida. Nosso corpo precisa de energia para funcionar, e sua geração demanda "combustível", no caso os nutrientes: os macro, que são as proteínas, carboidratos e gorduras, e os micro, que incluem vitaminas e minerais.

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Uma dieta equilibrada é fundamental para o sistema imunológico do corpo humano

A ingestão deles é controlada pelo hipotálamo, parte do cérebro localizada atrás dos olhos. Células nervosas presentes ali produzem, ao serem ativadas, a sensação de fome. Isso ocorre por meio de duas proteínas que "causam" a fome. Perto dali há outra região do sistema nervoso capaz de "neutralizar" a fome, por meio de outras duas proteínas.

A grosso modo, esse dois conjuntos de células nervosas estão ligados a sinais como "estou com fome" ou "estou sem fome". A transmissão desses sinais envolve também hormônios que circulam no sangue, principalmente, que podem chegar de várias regiões do corpo que cuidam da ingestão de alimentos e do armazenamento de energia, como o intestino e o pâncreas.

Mas o que é a fome em si e de onde vêm os "dados" para o cérebro "saber o que fazer"?

Bem, a fome física é a necessidade de comer, que nos leva a sair em busca de alimentos para, portanto, continuarmos vivos. É um sinal fisiológico. Mas também tem a ver com subalimentação e desnutrição, ou melhor, a impossibilidade de se alimentar ou o fato de fazer isso de forma errada. Logo, não se trata apenas de estômago cheio ou vazio, mas também da carga de nutrientes no intestino delgado, por exemplo. Uma pessoa obesa pode estar desnutrida.

Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), explica que o eixo intestino-cérebro é responsável por essa transmissão de mão dupla. A microbiota intestinal, composta principalmente por bactérias que colonizam o corpo logo após o nascimento, produz diversas substâncias que modulam o sistema nervoso central. É dessa relação com o sistema nervoso central que surgem as ordens como "coma mais" ou "coma menos" e a regulação do metabolismo.

O alimento e seus nutrientes entram como combustível necessário para o funcionamento desses processos.

Imagine uma cenoura, vegetal rico em uma substância antioxidante que protege a célula, o carotenoide. Ela é mastigada, segue pelo trato digestório, é digerida no estômago e absorvida no intestino delgado. Depois de uma série de processos de quebra, a cenoura é transformada em macro e micronutrientes, segue pela corrente sanguínea até o fígado, onde é metabolizada por meio de milhares de reações enzimáticas. Depois volta para a corrente sanguínea e, com ajuda do coração, chega ao organismo como um todo.

Um dos destinos são células, que para sobreviver também precisam de energia, que é basicamente a glicose, uma das moléculas resultantes da quebra dos nutrientes da cenoura.

Mas "cada refeição que você ingere, você está alimentando não apenas você, mas milhões e trilhões de bactérias no seu intestino", explica Ribas Filho.

E essas bactérias presentes no intestino têm papel fundamental nas defesas do corpo contra invasores, já que o sistema imunológico tem em sua base a "microbiota comensal". A maioria das células imunes do corpo ficam nessa região, e a microbiota intestinal atua no amadurecimento, no desenvolvimento e na regulação imunológica.

Mas não é qualquer quantidade ou variedade de comida que fará todo esse processo dar certo. "O segredo da vida está no meio", resume o nutrólogo.

Em níveis adequados, os nutrientes fazem com que o sistema imunológico adquirido, aquele que foi gerado ao longo da vida, tenha uma "produção maior de imunoglobulina, mais eliminação de bactérias, mais eliminação de vírus, mais eliminação de fungos, uma resposta autoimune maior e destruição de células, quer seja cancerosas ou infectadas por vírus".

Nutrientes também estimulam o timo (glândula do sistema imunológico) a produzir linfócitos, que expressam citocinas anti-inflamatórias e macrófagos, que farão fagocitose (processo de ingestão e destruição) e te defendem contra agentes bacterianos, fungicidas, fúngicos, vírus e células cancerosas."

E a falta de nutrientes faz toda a diferença na defesa do corpo. "Quando há deficiência de nutrientes, há, vamos assim dizer, uma diminuição na produção de imunoglobulinas, ou seja, aquelas células, aquelas proteínas que lhe protegem. E, consequentemente, você tem uma redução na sua eliminação bacteriana e na sua destruição de células infectadas."

Segundo Ribas Filho, não é por acaso que, em geral, pessoas desnutridas demandam mais cuidados intensivos do que atletas, por exemplo. A relação direta com uma maior gravidade da doença vale também para obesidade, tabagismo e sedentarismo, por exemplo.

Só que a solução não é tirar o atraso de uma hora para a outra.

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A falta de nutrientes faz toda a diferença na defesa do corpo

"O problema é que muitas vezes se confunde, e se oferece uma grande quantidade de energia para aquela pessoa achando que está desnutrida e magra. Mas se você for observar em favelas, nas classes mais pobres, no Brasil e em outros países, a grande maioria são mulheres obesas. E elas estão desnutridas. Mas porque têm uma ingestão altíssima de calorias, de macronutrientes, principalmente carboidratos, que são baratos, e gorduras."

Mas qual seria o tempo ideal? Bem, isso varia de uma pessoa para outra, mas em geral dura pelo menos três meses para mudanças na alimentação começarem a surtir efeito no sistema imunológico.

"O sistema imunológico demanda tempo para começar a produzir as suas células de defesa, pois tem as células inatas, com as quais você já nasce, e outras que com o passar do tempo você vai se adaptando e vai recebendo e seu organismo vai se defendendo. Se nós fizéssemos uma avaliação, por exemplo, em um paciente X que tem deficiência de zinco e cálcio e fizéssemos a reposição, é lógico, evidente, que seria o ideal. Mas também não posso dar altas doses de vitaminas ou de minerais porque o excesso também tem ação pró-oxidante. A falta é um problema e o excesso também. Baseado nisso, é o velho segredo da vida que está no meio."

Consequências da desnutrição no combate ao coronavírus

Ao longo da pandemia, grupos de pesquisa investigaram as consequências da nutrição deficiente em pacientes infectados com covid-19. E as causas para problemas de alimentação vão além da fome ligada à pobreza.

Um dos primeiros estudos sobre o tema foi publicado no European Journal of Clinical Nutrition em abril de 2020 a partir de dados de 182 pacientes de Wuhan, cidade chinesa onde começou oficialmente a pandemia, no fim de 2019.

Os pesquisadores levantaram diversas hipóteses para os quadros de desnutrição, presente em metade dos pacientes com covid-19, principalmente os idosos. Entre eles, o impacto de sintomas gastrointestinais na ingestão de alimentos, a perda de apetite por ansiedade, a redução dos níveis de algumas proteínas durante a resposta do corpo ante uma inflamação grave e o quadro de diabetes mellitus (associado a problemas no metabolismo de nutrientes).

Outro estudo sobre o tema foi publicado no British Journal of Nutrition e produzido por pesquisadores de Toulouse, cidade do sul da França. Eles acompanharam 80 pacientes diagnosticados com covid-19 que foram internados em um hospital da região.

Do total, 30 foram diagnosticados com subnutrição. Esse quadro é definido a partir de diversos critérios, como o índice de massa corporal (relação entre peso e altura), perda de peso recente e redução na ingestão de comida.

No caso desses pacientes, muitos passaram a ter problema com alimentação depois de contraírem covid-19, que costuma afetar o olfato e o paladar dos pacientes. Por exemplo, 46% dos pacientes reduziram pela metade o consumo de alimentos durante a infecção e 28% tiveram perda de apetite.

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A falta de acesso regular a alimentos suficientes e nutritivos entre famílias carentes colocam-nas em maior risco de desnutrição, fome oculta (deficiência de micronutrientes), obesidade e doenças crônicas relacionadas à alimentação

Segundo os pesquisadores, ao chegarem aos hospitais, esses pacientes tinham uma concentração da proteína albumina no sangue tão baixa quanto a detectada em outras doenças inflamatórias graves. Essa proteína, ligada à regulação do pH sanguíneo, é usada por profissionais de saúde como indicador do nível nutricional do paciente, e a presença dela em níveis muito baixos é associada a uma mortalidade maior.

O número reduzido de pacientes envolvidos nesse estudo não permite conclusões amplas sobre o impacto de subnutrição na mortalidade por covid-19. De todo modo, por um lado, o número de pacientes nutridos e subnutridos que precisaram de um leito UTI era equivalente; de outro, os únicos três pacientes que morreram eram subnutridos. "Tendo em vista a alta prevalência, é um elemento essencial o suporte nutricional para pacientes em tratamento por covid-19", afirmam os pesquisadores franceses.

Impacto da alimentação em relação à covid-19

Para o médico Arnold R. Eiser, professor emérito da Universidade da Pensilvânia (EUA), a alimentação adequada talvez seja o fator mais importante na origem da tempestade de citocinas, nome dado a uma reação desmedida do sistema imunológico contra invasores como a covid-19 que acaba prejudicando o próprio corpo e em alguns casos levando à morte.

Em artigo publicado no Journal of Alternative and Complementary Medicine, ele discorre sobre características anti-inflamatórias das dietas japonesa e mediterrânea (ricas em ômega 3, verduras, legumes e cereais integrais, por exemplo) em comparação ao perfil pró-inflamatório da dieta ocidental, rica em carne vermelha, laticínios e açúcar, entre outros. Estes estão ligados a reações inflamatórias do corpo e também estão entre os fatores associados ao surgimento de doenças cardiovasculares e obesidade, por exemplo.

Eiser defende mais pesquisas sobre o papel anti-inflamatório e preventivo da alimentação na pandemia. "A profilaxia da supressão de citocinas por meio de mudanças na dieta pode ser benéfica na redução da letalidade em uma pandemia como a da covid-19. Mudanças dietéticas em direção a uma dieta anti-inflamatória também têm benefícios adicionais à saúde, incluindo redução da morbidade e mortalidade cardiovascular, redução da prevalência de demência e efeitos antidiabéticos, de modo que a saúde pública poderia se beneficiar mais amplamente do que apenas na pandemia de covid-19."

Por outro lado, um grupo de dezenas de pesquisadores europeus aventa outras hipóteses, como a relação entre alimentação e os níveis de ACE2, enzima usada como porta de entrada pelo coronavírus para invadir as células humanas. Ou seja, alimentos ricos em gordura saturada (como carne vermelha e laticínios) podem deixar algumas pessoas mais vulneráveis à doença. Na direção oposta, alimentos com potencial antioxidante podem ser benéficos.

Para a especialista em saúde pública nutricional Amanda Avery, professora da Universidade de Nottingham (Reino Unido), outro fator possível passa pela relação entre alimentação e os conjuntos de micro-organismos (microbiota ou flora) presentes no intestino e nos pulmões.

Alimentos fermentados e probióticos, afirma ela, têm potencial para ajudar o organismo a prevenir infecções como a covid-19. No intestino, por exemplo, vivem bactérias que se nutrem do que comemos e assim se proliferam e produzem mais nutrientes.

Todos os pesquisadores defendem estudos mais aprofundados sobre o tema.

Qualidade da alimentação e disparidades raciais

Em artigo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine, um grupo de cinco pesquisadores de instituições dos EUA, entre elas a Universidade Harvard, e um da Universidade de Atenas (Grécia), tratam do impacto muito maior da pandemia sobre comunidades negras, latinas e indígenas em território americano a partir do ponto de vista da alimentação.

Segundo eles, essas comunidades são proporcionalmente mais afetadas por problemas nutricionais, obesidade e outras doenças crônicas em razão de fatores socioeconômicos, educacionais e ambientais. "Pessoas em situação de insegurança alimentar e vivendo em desertos de comidas (lugares com pouca oferta de alimentos saudáveis) têm acesso predominante a alimentos baratos e processados."

Essas disparidades ficaram ainda mais nítidas durante a pandemia, que atingiu desproporcionalmente pessoas negras, latinas e indígenas nos EUA. Esses grupos chegaram a ter taxas de internação cinco vezes maior que a dos brancos, por exemplo, e a mortalidade dos negros é duas vezes maior.

"As disparidades de saúde em nutrição e obesidade estão intimamente relacionadas às alarmantes discrepâncias raciais e étnicas relacionadas à covid-19."

A qualidade da alimentação não é, obviamente, o único fator envolvido no impacto em minorias étnicas ou classes menos favorecidas. Pesquisadores apontam outras razões, como a natureza dos empregos (mais presenciais e, portanto, expostos), o acesso desigual ao sistema de saúde, a densidade populacional das habitações, a falta de saneamento básico e a insegurança alimentar.

Nos EUA, o número de famílias latinas e negras que enfrentam a possibilidade de não ter o que comer é três vezes maior do que entre famílias brancas, segundo pesquisa publicada pelo Urban Institute a partir de dados da Pesquisa de Rastreamento do Coronavírus nos EUA. Durante a pandemia, o número de americanos que passam fome passou de 35 milhões para 50 milhões.

A situação não é diferente nas favelas brasileiras, que somam cerca de 13 milhões de habitantes.

Um estudo feito em duas favelas de São Paulo no início da quarentena investigou a insegurança alimentar entre março e junho de 2020 a partir de 909 chefes de família. A conclusão dos pesquisadores foi a de que a falta de acesso regular a alimentos suficientes e nutritivos por essas famílias colocam-nas em maior risco de desnutrição, fome oculta (deficiência de micronutrientes), obesidade e doenças crônicas relacionadas à alimentação.

Na pesquisa, 88% das famílias são chefiadas por mulheres jovens que trabalham como faxineiras, auxiliares de cozinha e em serviços de vendas, algumas das categorias profissionais mais expostas ao contágio da covid-19. A cada dez, nove relataram incertezas sobre a compra ou o recebimento de alimentos, seis comiam menos do que deveriam e cinco viveram insegurança alimentar moderada ou grave. Os fatores associados à fome são baixa renda, baixa escolaridade e morar em casa sem filhos (o que reduz o valor do Bolsa Família ou do auxílio emergencial).

Um quinto das famílias recebia Bolsa Família, principal fator de proteção socioeconômica. Ao longo da pandemia, os pesquisadores avaliaram o acesso a alimentos nas duas favelas (Heliópolis e Vila São José) a cada seis meses, e ficou claro como a trajetória da escassez de alimentos (saudáveis ou não) era marcada por altos e baixos. O auxílio emergencial deu um certo alívio, mas a interrupção, a redução do valor e a limitação para beneficiários trouxe de volta a insegurança alimentar.

Essa situação, entretanto, não começou com a pandemia, mas se agravou com ela.

Em entrevista à BBC News Brasil, a nutricionista Luciana Tomita, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo em São Paulo, disse que o mais chocante foi encontrar quase metade das famílias já nas primeiras semanas da pandemia em situação de escassez de alimentos moderada ou grave. "A redução da renda dessa população foi quase automática", disse Tomita.

Grande parte dessas famílias tem empregos temporários, sem carteira assinada, de renda instável e insuficiente. Além disso, há uma dificuldade de oferta e acesso a alimentos e ainda mais nutritivos. Perto das comunidades há fácil acesso a alimentos ultraprocessados. Os preços também foram monitorados. Os pesquisadores relataram ouvir como resposta ao não consumo de alimentos saudáveis a frase "é caro e não enche barriga".

E quais são as saídas possíveis?

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Durante a pandemia, houve alta dos preços de alimentos 

no Brasil, que afetam mais as famílias mais pobres

Segundo a legislação brasileira, a segurança alimentar e nutricional "consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais."

Por outro lado, a insegurança alimentar ocorre em três níveis, segundo a escala Ebia. Leve, quando há incerteza ou receio a respeito da capacidade de passar fome em um futuro próximo ou em conseguir alimentos; moderada, situação em que há restrição na quantidade e na qualidade do alimento para a família; e grave, quando as pessoas que relatam passar fome, quando não se consome comida por um dia inteiro ou mais.

Em estudo sobre a fome durante a pandemia de covid-19, publicada na revista SER Social, a socióloga Sirlândia Schappo, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz: "a ausência do direito humano à alimentação envolve não apenas a falta de renda ou da disponibilidade de alimentos, mas de vários outros fatores, como o não acesso ao alimento, a falta de condições adequadas para produzir o alimento, o não acesso à terra, a falta de condições de saúde ou de habitação, entre outras".

Uma das propostas do estudo coliderado por Tomita nas duas favelas paulistanas é a agricultura familiar, setor responsável por produzir 75% dos alimentos consumidos no Brasil, segundo dados da FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura).

A pesquisadora também acompanhou estudantes de uma escola pública em Heliópolis onde construíram uma horta pedagógica com a intenção de incentivar a alimentação saudável e a produção própria. E ficou claro que o sucesso do projeto depende em envolver a comunidade como um todo. "Segurança alimentar e nutricional é isso, né? Acesso a alimentos saudáveis, seguros, em quantidade e qualidade."

Além disso, Tomita defende a ampliação de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o auxílio emergencial. Para ela, o benefício precisa atender bem também os idosos e os adultos que não têm filhos, "com um valor que permita comprar alimentos, botijão de gás e materiais básicos de necessidade e higiene para que consiga garantir o seu direito à alimentação adequada e saudável".

O pagamento do auxílio emergencial começou em abril de 2020, sendo R$ 600 ou R$ 1.200 para mães chefes de família. Depois de cinco parcelas, o valor caiu pela metade. O último dos repasses, de R$ 300 ou R$ 600, ocorreu em dezembro. O programa foi retomado em 2021 com quatro parcelas de R$ 250 e menos beneficiários.

Estima-se que o custo dos pagamentos para 68 milhões de pessoas tenha chegado a R$ 300 bilhões em 2020, quase dez vezes o valor do Bolsa Família, que beneficiava cerca de 14 milhões de famílias com repasse médio de quase R$ 200.

****** COMENTANDO A NOTÍCIA:

O Programa "Bolsa Família" citado na reportagem, foi substituído pelo Programa "Auxílio Brasil" no final de 2021, beneficiando cerca de 18 milhões de famílias, com repasse médio de R$ 400,00 para cada beneficiário. 


Estudo: bolha de vacinados protege crianças não vacinadas de forma substancial

 Jen Christensen

da CNN Brasil 

Menores de 5 anos não são elegíveis à vacinação contra Covid-19 no Brasil; estudos mostram que familiares vacinados geram proteção aos pequenos

  Cristine Rochol/PMPA

Vacinação de crianças contra a Covid-19 em Porto Alegre (RS)

Quando os pais perguntam à especialista em doenças infecciosas pediátricas Dra. Amy Edwards, como podem manter seus pequeninos livres da Covid-19, ela diz que isso é simples.

 “Vacine todos ao seu redor e isso protegerá seu filho muito bem”, disse Edwards, diretora médico-associada de controle de infecções pediátricas no Hospital Universitário Rainbow Babies and Children, em Cleveland, nos Estados Unidos. “Não é uma proteção completa, mas é uma proteção melhor”.

Na semana passada, os EUA superaram 1 milhão de novos casos de Covid-19 entre crianças pela primeira vez desde que a Academia Americana de Pediatria começou a rastrear, disse o grupo na terça-feira, e os números agora são quase cinco vezes a taxa do pico do surto no inverno passado. Mas crianças menores de 5 anos ainda não são elegíveis para vacinas contra a Covid-19 nos Estados Unidos.

No entanto, há novas evidências de que elas podem obter proteção significativa contra o coronavírus se todos ao seu redor estiverem vacinados.

Dois novos estudos feitos em Israel descobriram que vacinar todas as pessoas de uma casa reduz a transmissão do vírus que causa a Covid-19. Os estudos foram publicados na revista Science, na quinta-feira.

Um estudo analisou o período entre janeiro e março de 2021, quando a variante Alfa do coronavírus estava em ampla circulação, e entre julho e setembro de 2021, quando a variante Delta superou a disseminação em Israel. Durante o primeiro período, nenhuma criança em Israel era elegível para receber a vacina. No segundo período, apenas crianças com 12 anos ou mais eram elegíveis.

Os pesquisadores descobriram que as crianças que viviam em uma casa com uma única pessoa vacinada tinham um risco 26% menor de pegar Covid-19 no início de 2021. Ter uma pessoa vacinada ainda gerava proteção quando a variante Delta estava em ampla circulação, mas isso diminuiu para 20,8%.

Se a criança morasse em uma casa onde dois dos responsáveis fossem vacinados, elas teria um risco significativamente reduzido de pegar Covid-19. Durante a parte da pandemia em que a variante Alfa estava em circulação, crianças que viviam com duas pessoas vacinadas tinham redução do risco em 71,7%. Com a Delta, o risco de pegar a doença era reduzido em 58,1%.

“A vacinação dos pais confere proteção substancial em casa para as crianças não vacinadas”, disseram os pesquisadores, que trabalharam na Universidade de Harvard, Instituto de Pesquisa Clalit, Universidade Ben Gurion, Universidade de Tel Aviv e Hospital Infantil de Boston.

Outro estudo analisou a taxa de transmissão entre os contatos domiciliares e reforçou o caso da proteção indireta das vacinas.

Os pesquisadores descobriram que, antes da variante Delta, as pessoas que receberam a vacina Pfizer/BioNTech e mesmo assim contraíram a doença, tiveram a infecciosidade ligeiramente reduzida em comparação com aqueles que ficaram doentes e não haviam sido vacinados.

Pesquisadores da Universidade de Yale e do Instituto Maccabi de Pesquisa e Inovação analisaram famílias que foram imunizadas com a vacina da Pfizer antes e depois que a variante Delta estava em ampla circulação.

A eficácia total da vacina foi estimada em 91,8% entre 10 e 90 dias após a vacinação e 61,1% mais de três meses após a segunda dose. Houve evidências de que a proteção diminuiu depois desse período de tempo, e o estudo não levou em consideração as doses de reforço.

Quando a variante Delta se tornou dominante, a eficácia da vacina Pfizer caiu para 65,6% entre 10 e 90 dias e 24,2% mais de três meses após a segunda dose.

Mas mesmo com o declínio na eficácia, quando os pesquisadores analisaram o risco para as crianças nessas famílias, eles encontraram uma “maior redução no risco para crianças expostas a um membro infectado vacinado versus um não vacinado, independentemente da variante que estava em circulação”, disse o estudo.

É dentro de casa onde muitos casos começam, sugere o estudo. Outros estudos sugeriram o mesmo. O risco de transmissão a partir de um membro da família infectado foi 100 vezes maior do que o risco médio de contrair infecção da comunidade.

Não houve aumento significativo na transmissão domiciliar quando a Delta estava em circulação. As crianças, no entanto, tinham um risco menor de infecção tanto da comunidade quanto de um membro da família infectado, e as próprias crianças doentes eram um pouco menos infecciosas do que os adultos.

“Sempre soubemos que as crianças não são os principais transmissores desse vírus”, disse Edwards, que não está envolvida nos novos estudos. “Os adultos sempre foram os principais transmissores desse vírus, e é por isso que é a nossa incumbência, como adultos, sermos vacinados, os que usam as máscaras e os que tomam os cuidados, porque somos os principais responsáveis por esses surtos. Somos nós que podemos mantê-las seguras”.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.


É falso que organizações sanitárias não defendem vacina e que presidente da Pfizer foi condenado

 Do Projeto Comprova

CNN Brasil 

Textos que viralizaram são falsos porque foram inventados e divulgados de modo deliberado para espalhar uma mentira; entenda

REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração

Frascos de vacinas contra a Covid-19

É falso que entidades internacionais de saúde tenham pedido a interrupção da vacinação contra a Covid-19 porque os imunizantes não são seguros para os seres humanos.

Uma das entidades citadas em textos que viralizaram no WhatsApp é o Conselho Mundial de Saúde, que reúne grupos negacionistas e antivacina em vários países. Os argumentos elencados pelo grupo já foram verificados pelo Comprova anteriormente, que concluiu que eles eram falsos ou enganosos.

A imunização é segura e passou por vários testes antes de ser autorizada. Por isso mesmo, é apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS); pela Food and Drugs Administration (FDA), que é a autoridade sanitária dos Estados Unidos; pela European Medicines Agency (EMA); pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para citar apenas algumas entidades consultadas pelo Comprova.

Essas entidades são oficiais, ao contrário do chamado Conselho Mundial de Saúde.

Um outro texto que também viralizou diz que personalidades envolvidas com a vacinação serão julgadas por crimes contra a humanidade, citando o presidente da Pfizer, Albert Bourla.

O link elencado no conteúdo, porém, é de um autointitulado “Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum”, que emula o símbolo do Tribunal Internacional de Justiça, principal órgão judiciário ligado à Organização das Nações Unidas e baseado em Haia, na Holanda.

Como demonstrado por serviços de checagem internacionais, o “Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum” não tem jurisdição reconhecida por nenhum governo. Na Corte de Haia não há nenhum processo em andamento envolvendo vacinas, a Pfizer ou Albert Bourla.

O conteúdo foi considerado falso porque é inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Primeiro, consultamos os sites citados nos conteúdos verificados. Na página do “Conselho Mundial de Saúde”, é possível buscar as entidades parceiras por país e acessar os seus sites, o que usamos para encontrar o posicionamento dessas organizações.

Buscamos em verificações já publicadas pelo Comprova informações sobre o que é alegado pelo Conselho e sobre a segurança e eficácia dos imunizantes contra a Covid-19.

Também fizemos uma busca no Google com o nome em inglês do “Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum” e encontramos checagens internacionais sobre conteúdo bastante similar ao verificado pelo Comprova.

No site do Tribunal Internacional de Justiça de Haia, buscamos informações sobre processos em andamento envolvendo as palavras “vacina”, “vacinação”, “Pfizer” e “Albert Bourla”, mas não encontramos nenhum caso relacionado a esses temas.

Por fim, procuramos instituições e autoridades de saúde reconhecidas para saber qual o posicionamento delas em relação à vacinação.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a Covid-19 disponíveis no dia 9 de fevereiro de 2022.

Verificação


Conselho reúne grupos negacionistas

O Conselho Mundial de Saúde se descreve como uma coalizão mundial entre organizações focadas em saúde e grupos da sociedade civil que buscam ampliar o conhecimento público em saúde que traga sentido através da ciência e do compartilhamento de conhecimento.

No site, é possível encontrar as 104 entidades parceiras da coalizão. Também é possível procurar por país em que elas estão localizadas. Ao menos seis grupos consultados pelo Comprova são de instituições negacionistas, que defendem o uso de substâncias comprovadamente ineficazes para tratar a Covid-19 ou que são contra a vacinação da população.

No Brasil, o único parceiro do Conselho é a Associação Médicos Pela Vida. O presidente do grupo é o médico pernambucano Antônio Jordão, que foi indiciado pela CPI da Covid no Senado por “desestimular medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras”, e reforçar o uso de medicamentos ineficazes para tratar a doença.

Uma farmacêutica que produz esses medicamentos do chamado “tratamento precoce” bancou anúncios da associação brasileira. O grupo chegou a se reunir com o presidente Jair Bolsonaro (PL) para defender terapias inócuas contra o novo coronavírus.

Em seu site, a Médicos Pela Vida também questiona a vacinação, principalmente de crianças, e defende a “imunidade natural”, estratégia que consiste em deixar as pessoas se infectarem sem o uso de imunizantes.

O mesmo padrão se repete em outros lugares. Nos Estados Unidos e no Canadá, o Conselho é parceiro de organizações antivacina. Na África do Sul, é aliado a um grupo que deseja processar a Organização Mundial da Saúde e farmacêuticas pela atuação durante a pandemia. Além disso, um dos parceiros internacionais é uma aliança contrária à adoção de lockdowns e contra a vacina.

Texto se baseia em desinformação

O texto em que o Conselho Mundial de Saúde pede o fim do uso de vacinas também é baseado em várias desinformações. O Comprova já mostrou, por exemplo, que as vacinas não são experimentais, tendo passado pelas três fases de estudos necessárias para atestar a eficácia e a segurança. Também já demonstrou que a proteção oferecida pelos imunizantes é muito superior ao risco de miocardite em crianças.

O Comprova também já mostrou que não há relação entre episódios de mal súbito de atleta e a proteção contra a covid-19, ao contrário do que sustenta o texto do Conselho.

Por fim, eles citam como uma das referências científicas para o texto o médico Vladimir Zelenko, cujos estudos o Comprova já mostrou não terem comprovação científica.

Segurança da vacina

O Comprova, desde o início dos testes das vacinas contra a covid-19, vem demonstrando a eficácia e a segurança dos imunizantes (conforme pode ser verificado em 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9).

Por meio de consulta aos órgãos reguladores em saúde, aos especialistas e aos laboratórios, o projeto verificou boatos e informações enganosas que circulavam em redes sociais desacreditando a vacinação.

Ao contrário da informação citada nos boatos, todas as vacinas utilizadas no país têm sua eficácia cientificamente comprovada e passaram por rigorosas análises antes de serem disponibilizadas à população.

Além de testes em laboratório, os imunizantes também foram avaliados em uma fase de testes especificamente desenhada para pessoas que se voluntariam, garantindo que efeitos adversos graves não fossem identificados com frequência.

Especialistas contactados pelo Comprova também descartam a recorrência de efeitos adversos graves ou de mutações corporais em vacinados, assegurando que os imunizantes não oferecem qualquer risco à população.

Embora algumas reações possam ocorrer após a aplicação da vacina, um boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de novembro de 2021 mostra que, em 92% dos casos, são reações não-graves. Dados apontam que o risco de óbito devido à complicação da Covid-19 é 56 vezes maior do que a ocorrência de um efeito adverso relacionado à vacina.

Organizações internacionais apoiam a imunização

A vacinação contra a Covid-19, além de comprovadamente segura e eficaz, é defendida e apoiada por autoridades em saúde de todo o mundo. Esse reconhecimento internacional ressalta o método como uma medida eficaz para a proteção contra a doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) frequentemente se posiciona a favor da vacinação, garantindo a eficácia e a segurança dos imunizantes aprovados. Em dezembro de 2021, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, reforçou o pedido para que os países desenvolvidos garantam a cobertura vacinal global de 70% até a metade de 2022.

O diretor-geral ainda afirmou que era uma “vergonha moral” o mundo não ter alcançado a meta de 40% da população vacinada em 2021, permitindo que o vírus da covid-19 sofresse mutações.

A agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration, também recomenda a vacinação como forma de prevenção à Covid-19. Em seu site, a FDA ressalta que “se vacinar ou receber o reforço se você já está vacinado é a melhor coisa que você pode fazer para ajudar a se proteger e proteger sua família e amigos” (tradução livre).

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também são defensoras da vacinação contra a Covid-19. A Anvisa, no dia 24 de dezembro, destacou que a doença segue como uma ameaça para os não vacinados, já que pessoas que não receberam o imunizante têm uma probabilidade maior de desenvolverem sintomas graves e de necessitar de hospitalização.

A agência ainda destaca que as vacinas contra a Covid-19 foram desenvolvidas a partir de métodos científicos que já existem há décadas, e que, mesmo após sua aprovação, os imunizantes seguem em constante monitoramento.

A Fiocruz destaca que a vacina é a melhor medida para evitar mortes em decorrência da Covid-19. A Fundação, que produz uma das vacinas em uso no Brasil, criou o projeto Vigivac, para acompanhar a eficácia dos imunizantes.

O primeiro boletim, divulgado no final de 2021, apresentou análises das quatro vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil (CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen), constatando que todas possuem grande redução do risco de infecção, de internações e de óbito por covid-19.

Tribunal que teria condenado diretor da Pfizer não é legítimo

O Comprova também investigou a suposta sentença mencionada em uma das mensagens divulgadas. O conteúdo compartilhado refere-se ao chamado “Tribunal Internacional de Justiça da Lei Comum”, uma iniciativa privada que não é considerada um órgão oficial.

Ao procurar na lista de cortes e tribunais das Nações Unidas, o tribunal não aparece nos registros da organização.

No site do “Tribunal”, encontramos a informação de que ele serve de aconselhamento para a criação de uma assembleia ou tribunal nas comunidades, e que voluntários podem se oferecer para ajudar neste trabalho.

Dentre os conteúdos compartilhados no site, uma matéria ganha destaque ao afirmar que grandes farmacêuticas, governos e líderes da igreja são presos após o tribunal os condenarem por genocídio e proibirem a aplicação das vacinas.

O texto traz um suposto veredito que teria condenado dois CEOs da Pfizer, o presidente da China, o Papa Francisco, o primeiro-ministro do Canadá e a rainha Elizabeth. Nenhuma dessas condenações é verdadeira e os documentos anexados possuem diversos indícios de falsificação, como a ausência da assinatura de quem proferiu a sentença ou vinculação às instâncias judiciárias.

A matéria apresentada no site é assinada por Kevin Annett, ex-ministro da United Church of Canada, conhecido por publicar histórias on-line relacionadas às Escolas Residenciais Indígenas. Annett foi removido da organização por criar histórias fundadas em teorias da conspiração que difamam líderes religiosos, políticos e indígenas.

De acordo com o Conselho Regional das Montanhas do Pacífico, um dos conselhos regionais da United Church of Canada, o ex-líder religioso dispõe de um site com inúmeras alegações e acusações falsas, especialmente sobre clérigos e a Igreja.

Na página do Tribunal, todos os detalhes sobre a suposta sentença remetem ao site Murder by Decree, de Kevin Annett.

O verdadeiro Tribunal Internacional de Haia e a atuação durante a pandemia o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também chamado de Corte Internacional de Justiça (CIJ), é o órgão judiciário principal da Organização das Nações Unidas (ONU). Fica sediado em Haia, na Holanda, no Palácio da Paz.

É importante ressaltar que o TIJ não deve ser confundido com o Tribunal Penal Internacional, que entrou em vigor em 2002, voltado para investigação e julgamento de crimes cometidos por indivíduos e que atingem comunidades ou a sociedade como um todo. O Tribunal Penal foi estabelecido pelo Estatuto de Roma, não tendo associação com a ONU.

A criação do TIJ foi determinada pelo artigo 92 da Carta da ONU, em 1945, e seu funcionamento começou no ano seguinte.

Após a Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes criou, em 1919, a Liga das Nações, uma antecessora da ONU, que tinha como órgão judiciário a Corte Permanente de Justiça Internacional.

No entanto, a atuação da Liga não foi capaz de impedir o desencadeamento da Segunda Guerra e, em resposta, os países se uniram para reformular suas estratégias de cooperação e promoção da paz.

Assim, o TIJ substituiu a Corte Permanente, com o objetivo de lidar com os mais diversos conflitos jurídicos envolvendo nações que acionam o Tribunal, além de proferir pareceres a respeito de questões apresentadas pela Assembleia Geral ou pelo Conselho de Segurança da ONU. Também podem solicitar pareceres consultivos outros órgãos da ONU, bem como entidades especializadas, desde que devidamente autorizados pela Assembleia Geral.

De acordo com o Estatuto do TIJ, este é composto por 15 juízes, cada um deles devendo ser de uma nacionalidade. Os magistrados são eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança da ONU, com mandato de 9 anos e possibilidade de reeleição.

A escolha é feita entre os nomes de uma lista estabelecida por grupos nacionais na Corte Permanente de Arbitragem, uma organização administrativa também localizada em Haia, na Holanda.

A atuação do TIJ envolve múltiplos aspectos do direito internacional, como pareceres sobre a interpretação de tratados internacionais, delimitação dos papéis dos Estados enquanto sujeitos do direito internacional e também da atuação de organizações internacionais, bem como questões envolvendo soberania e responsabilidade internacional dos países membros da ONU, entre outros.

Decisões do Tribunal durante a pandemia

A página oficial do TIJ apresenta, em destaque, um aviso sobre as notas contendo informações e medidas adotadas pelo órgão para ajudar a conter a disseminação da Covid-19 nas dependências do Tribunal, mantendo a segurança de seus membros e funcionários.

Essas medidas seguem as diretrizes da OMS e as determinações específicas do governo holandês, onde se localiza a sede. Após um período de suspensão das audiências, foi adotado o sistema de reunião por vídeo. Também foram suspensas as viagens oficiais de membros e houve a solicitação para que funcionários evitassem deslocamentos e viagens particulares.

Como o site não tem uma versão em português, o Comprova selecionou a língua inglesa para a navegação, por ser um dos idiomas utilizados na redação das notas de imprensa.

No mecanismo de busca, pesquisas pelas palavras “vaccine”, “vaccination”, “Pfizer” ou mesmo “Albert Bourla” (nome do CEO e diretor da Pfizer nos Estados Unidos) não geraram resultados para notícias, seções, nem documentos registrados pelo Tribunal no período relativo à pandemia.

No campo de buscas avançadas, foram inseridas as mesmas palavras-chave. Não foram selecionadas delimitações de período, então, os resultados compreendem de 1946 a 2022.

Para “vaccine” e “vaccination”, o documento mais recente data de 2017, envolvendo Índia e Portugal. Ao digitar “Pfizer”, o resultado mais recente é de 2015 e não há casos para “Albert Bourla”.

No site do TIJ é também possível acessar as listas de casos pendentes, que estão sob deliberação, e aqueles que já foram decididos, separados por ano ou por Estado.

Nenhum dos casos em aberto envolve a temática das vacinas e os que tiveram decisões proferidas em 2020 e 2021 são de disputas abertas anteriormente ao surgimento do novo coronavírus, também não se relacionando a vacinas.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia de Covid-19, as políticas públicas do governo federal e as eleições de 2022 que tenham viralizado nas redes sociais.

Quando se trata de temas relacionados à Covid-19, a checagem se torna ainda mais necessária, visto que a desinformação sobre a doença pode levar as pessoas a não acreditarem nas recomendações das autoridades sanitárias e se exporem a riscos desnecessários.

O vídeo verificado aqui foi sugerido pelos leitores do Comprova através do WhatsApp, onde circulou. Sugestões como esta podem ser encaminhadas pelo número (11) 97045-4984, ou clicando neste link. Conteúdos muito parecidos foram verificados por Boatos.org, Yahoo, Reuters e AAP.

Recentemente, o Comprova mostrou que a maioria dos infectados pela Ômicron não foi vacinada, ao contrário do que afirma médico; que é enganoso um vídeo que usa limão para desacreditar os testes de Covid-19; e que é falso que as vacinas tenham causado “milhares de mortes”. Também explicou por que eventos adversos graves pós-vacinação contra a Covid-19 são raros e os benefícios superam os riscos da imunização.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

*Investigado por: Jornal do Commercio e Comprova; verificado por: O Dia, Metrópoles, CNN Brasil, Estadão e SBT


Subvariante da ômicron já se espalha por 57 países; OMS informa que mundo teve aumento no número de mortes por Covid

 LaurenBerger

BolaVip Brasil

A BA.2, a subvariante da ômicron, já foi encontrada em, no mínimo, 57 países. As informações são de acordo com o balanço divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nesta quarta-feira (2). Além disso, segundo o comunicado publicado, essaa presença da subvariante já teria subido em 50% em diversos países.

 Reprodução/Getty Images – 

Aumento nos casos teve mais de 1,2 milhão no Brasil

A BA.2 foi encontrada na Dinamarca, pela primeira vez. “A OMS pede mais investigações sobre as características da BA.2, com o objetivo de se conhecer melhor sua transmissibilidade, seu escape imunológico, suas propriedades e virulência”, disse. Estudos preliminares realizados por pesquisas do país mostraram que a subvariante é 34% mais transmissível que a versão original da Ômicron.

De acordo com a OMS, a variante ômicron já representa quase 94% dos novos casos registrados no mundo todo. Além disso, as primeira variantes do coronavírus, Alpha e Beta, que surgiram há somente diois anos, estão em menos de 0,1% dos casos atuais. O relatório também aponta que, entre os dias 24 e 30 de janeiros, o mundo registrou 22 milhões de casos.

O mundo registrou 14,3 mil mortes por Covid-19 na terça-feira (1º), o maior número de óbitos em um único dia desde 7 de maio de 2021

Além disso, no período, houve o aumento de 9% no número de mortes, com 59 mil óbitos de pacientes contaminados pela Covid-19. Enquanto isso, no Brasil, mais de 1,2 milhão de pessoas contraíram o coronavírus, entre 24 e 30 de janeiro. Esse número representa um aumento de 56%. No período, 3.300 pessoas morreram, um aumento de 88%.

Vacina experimental contra HIV é aplicada em primeiros pacientes

 Anokhi Saklecha

 CNN Brasil

Imunizante da Moderna utiliza tecnologia de RNA mensageiro

 REUTERS/Dado Ruvic/Foto ilustrativa

EUA concedem aprovação completa para vacina da Moderna contra Covid

A Moderna anunciou na última semana que os primeiros participantes de um ensaio clínico de Fase 1 de uma vacina experimental contra HIV foram vacinados.

O teste, intitulado IAVI G002, está sendo conduzido em parceria com a International AIDS Vaccine Initiative (IAVI), uma organização de pesquisa científica sem fins lucrativos.

A parceria está testando uma vacina que fornece antígenos específicos do HIV ao corpo com o objetivo de induzir uma resposta imune. Esses antígenos foram inicialmente desenvolvidos por pesquisadores da IAVI e da Scripps Research — organização de pesquisa médica sem fins lucrativos —, liderados pelo Dr. William Schief.

Em um teste de “prova de conceito” no ano passado, a equipe de pesquisadores descobriu que os antígenos do HIV produziram a resposta imune desejada em 97% dos participantes.

O estudo atual se baseia no anterior, testando a versão primária da vacina e também uma versão de reforço, empregando a tecnologia de mRNA (ou RNA mensageiro) da Moderna, que foi anteriormente usada para criar uma vacina contra o COVID-19 bem-sucedida.

“Estamos extremamente empolgados em avançar nessa nova direção no design de vacinas contra o HIV com a plataforma de mRNA da Moderna. A busca por uma vacina contra o HIV tem sido longa e desafiadora, e ter novas ferramentas em termos de imunógenos e plataformas pode ser a chave para progredir rapidamente em direção a uma vacina eficaz e urgentemente necessária”, disse Mark Feinberg, presidente e CEO da IAVI, em um boletim de imprensa da Moderna.

O novo teste, financiado em parte pela Fundação Bill e Melinda Gates, acompanhará 56 participantes adultos HIV-negativos, com o objetivo de estudar tanto a segurança quanto a eficácia da vacina. Dentre os voluntários, 48 receberão pelo menos uma dose da vacina primária. Desses, 32 receberão também o reforço. Os oito restantes receberão apenas a vacina de reforço.

O teste inclui participantes de quatro locais: Faculdade de Medicina da Universidade George Washington, Centro de Vacinas Hope Clinic of Emory, Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson e Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas em San Antonio.


Como ficam os clientes transferidos da Amil após a nova decisão da ANS?

 Mariana Desidério

Exame.com

A ANS barrou a transferência da APS, que havia assumido a carteira da Amil com 330 mil clientes individuais; para advogados, decisão não é garantia para esses beneficiários

  (Erdikocak/Getty Images)

Mercado de Saúde: Receita líquida da Rede D'Or projetada pelo BTG

 deve quase dobrar em dois anos, para R$ 25 bilhões em 2022

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decidiu ontem suspender a transferência da Assistência Personalizada à Saúde (APS), que controla mais de 330 mil planos de saúde individuais da Amil, para um grupo investidor que inclui a gestora de investimentos Fiord Capital, a empresa Seferin & Coelho, de investimento e gestão em hospitais e planos de saúde, e o executivo com experiência em saúde Henning Von Koss.

A medida vem após notícias a respeito da insatisfação dos beneficiários com a APS. A Amil transferiu sua carteira de beneficiários com planos individuais para a APS em dezembro de 2021, com autorização da ANS. Tanto Amil quanto APS são controladas pela UnitedHealth, multinacional do setor de saúde.

Com mais de 300 mil pessoas, em grande parte idosos, a carteira de planos individuais era considerada um problema para a rentabilidade da Amil. O objetivo era transferir esses clientes à APS e então repassar a APS para o grupo investidor, em um negócio estimado em R$ 3 bilhões. A decisão da ANS paralisa o negócio, por ora.

A perspectiva de advogados especializados em direito à saúde consultados por EXAME é de que a ANS demorou a agir e que a suspensão da transação não é garantia para os beneficiários que estão na carteira.

“Para nós é uma sinalização de que a agência fez pelo menos o mínimo. Mas o consumidor fica na expectativa de que não pare por aí. A agência precisa analisar essa movimentação com cuidado e até mesmo rever a transferência da carteira para a APS”, afirma Ana Carolina Navarrete, coordenadora do programa de saúde do Idec.

Na visão de Navarrete, a possibilidade de transferência da APS pode ser danosa para o consumidor. “Se a APS não fizer uma boa gestão da carteira, a UnitedHealth pode ser chamada a responder por isso. Se a UnitedHealth sai, a incerteza aumenta”, afirma.

O advogado Rafael Robba, do Vilhena Advogados, entende que a decisão da ANS não descarta a venda em definitivo. “A agência não autorizou a transferência por falta de documentos. Com a apresentação da documentação, ela deve autorizar, acredito que seja só questão de tempo”, afirma.

Direitos dos beneficiários

Se a transferência de fato ocorrer, a agência precisa ficar atenta aos direitos dos consumidores, diz Robba. “A possibilidade desses consumidores sofrerem grandes prejuízos na qualidade do plano de saúde é muito grande. Já vimos acontecer em outras transferências de carteiras. Esperamos que a ANS de fato atue para proteger os consumidores”, diz. O advogado lembra que a carteira tem beneficiários antigos, que pagam o plano de saúde há anos e são na maioria idosos.

Para que a transferência seja bem-sucedida, Robba afirma que APS e o grupo investidor precisam mostrar que têm solidez para garantir o atendimento a esse volume de beneficiários, e que têm condições de manter a rede credenciada. “Essas empresas precisam se comprometer a não criar barreiras de dificuldade no atendimento”, diz.

A advogada Tatiana Viola de Queiroz, também especializada em saúde, diz que tem recebido queixas de beneficiários sobre descredenciamento de rede na carteira transferida. “O plano de saúde tem direito de descredenciar, mas precisa colocar algo equivalente no lugar”, diz.

Ela afirma que cabe à ANS fiscalizar esses descredenciamentos e multar a APS se necessário. Para o consumidor que se sentir prejudicado, a orientação é registrar queixa na ouvidoria da operadora, na ANS e no Procon. Se nada resolver, é possível procurar a Justiça.

O Procon-SP informou que notificou Amil, APS e UnitedHealth para discutir a transferência da carteira de planos individuais. O tema deverá ser debatido em reunião no próximo dia 17.


Por que a hanseníase ainda persiste como problema de saúde pública no Brasil

 Lucas Rocha

CNN Brasil

Dados preliminares divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que o Brasil diagnosticou 15.155 novos casos da doença em 2021

  Thiago Silva/Prefeitura de Boa Vista 

Especialistas estimam que a pandemia de Covid-19 tenha

levado à subnotificação dos casos de hanseníase

Perda de sensibilidade, formigamento, diminuição de força e da mobilidade. Estes foram alguns dos sintomas que acometeram Patrícia Gonçalves Soares, 36, moradora de Vitória da Conquista, na Bahia, diagnosticada com hanseníase em 2013.

A hanseníase é uma das doenças mais antigas da humanidade, com relatos de casos desde 600 a.C. Apesar de antiga, ela ainda é um grave problema de saúde pública, especialmente no Brasil, que concentra o segundo maior número de novos casos do mundo, atrás apenas da Índia.

A doença, que já foi chamada de lepra, foi renomeada devido ao estigma associado ao termo. Desde 1995, por definição da Lei nº 9.010, o termo lepra e seus derivados não podem mais ser utilizados na linguagem adotada nos documentos oficiais da União, dos estados e municípios. Este domingo (30) é marcado pelo Dia Mundial de Combate à Hanseníase.

Patrícia, que atua como coordenadora nacional do Movimento de Reintegração de Pessoas Afligidas pela Hanseníase (Morhan), conta que passou por diferentes consultas e atendimentos médicos até a confirmação do diagnóstico.

“Eu já tinha sintomas que já eram indícios de hanseníase há muito tempo, mas nenhum médico desconfiou que poderia ser a doença. Fiz uma peregrinação de médico em médico até que eu fui atendida por uma da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, que suspeitou que podia ser a hanseníase”, afirma.

Ela conta que não tinha conhecimento sobre a doença no momento do diagnóstico e que a descoberta sobre o preconceito em torno da doença foi um fator de preocupação. “Costumo dizer que eu fui um caso para estudo e que tudo que pode acontecer de pior na hanseníase aconteceu comigo. De início, foi uma situação muito ruim, mas com o tratamento eu melhorei e não tenho mais a doença, mas o cuidado permanece”, relata.

A hanseníase é causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae, que afeta principalmente nervos periféricos e a pele. As complicações da doença podem levar a incapacidades físicas, principalmente nas mãos, pés e nos olhos.

Os sinais mais frequentes incluem dormência, formigamento e diminuição na força física das mãos, pés ou pálpebras, além de manchas brancas ou avermelhadas com diminuição ou perda da sensação de calor, de dor ou do tato.

No caso de Patrícia, a doença evoluiu para um quadro clínico agravado principalmente em razão do diagnóstico tardio. Ela desenvolveu uma condição clínica chamada de eritema nodoso, que consiste em uma reação inflamatória aguda, que se sobrepõe à evolução crônica e gradual da hanseníase.

“Eu cheguei a um estágio de eritema necrotizante, como se fossem bolhas de água meio sanguinolentas. Quando cheguei nesse estágio, cheguei a pensar que não tinha cura e que nunca iria melhorar, foi muito chocante nesse ponto”, diz.

O acompanhamento por uma equipe multidisciplinar, com médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, contribuiu para a melhoria do quadro. Hoje, Patrícia está curada da hanseníase e se dedica, junto ao Morhan, à luta pela garantia e respeito aos direitos das pessoas atingidas pela doença e familiares.

Criado em 1981, o Morhan é uma entidade que promover atividades de conscientização e tem como foco a construção de políticas públicas eficazes para a população afetada pelo agravo.

O tratamento da hanseníase é feito a partir da associação de três antibióticos (rifampicina, dapsona e clofazimina). A indicação do tratamento depende da condição clínica de cada paciente, podendo ser de seis meses a um ano. O tratamento melhora a qualidade de vida, reduz os riscos de complicações e interrompe a transmissão da doença.

Doença negligenciada

A hanseníase é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma doença negligenciada.

Segundo a definição da OMS, agravos desse tipo são considerados endêmicos em populações de baixa renda e contribuem para a manutenção de situações de desigualdade no mundo. Além disso, o baixo investimento em pesquisas científicas por grandes empresas e farmacêuticas amplia as lacunas no diagnóstico e no tratamento.

“Estudos epidemiológicos realizados usando grandes bases de dados têm demonstrado que as pessoas que acabam desenvolvendo a doença são aquelas com nível de escolaridade mais baixo, salários mais baixos e que têm condições de vida piores”, afirma o pesquisador Milton Ozório, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Segundo o especialista, a persistência da hanseníase no Brasil como problema de saúde pública pode ser explicada, em parte, pelos determinantes sociais da saúde. De acordo com a definição da OMS, o conceito reúne fatores não médicos que influenciam a saúde humana, incluindo as condições nas quais as pessoas nascem, crescem, trabalham, vivem e envelhecem. Os determinantes perpassam os sistemas econômicos, as políticas públicas e sociais e as agendas de desenvolvimento.

“Quando falamos em condições de vida precária, incluímos questões como a falta de esgotamento sanitário, de água encanada e todos esses fatores que são importantes no que consideramos os determinantes sociais da saúde. Infelizmente, a persistência desses fatores no Brasil é risco justamente para essas populações que vivem em nível de pobreza e acabam desenvolvendo a doença com mais frequência”, completa Ozório.

Na avaliação do professor da Universidade de Brasília (UnB), Ciro Martins Gomes, ainda falta investimento em diagnóstico e tratamento da doença no país.

“A desigualdade social ainda faz com que a hanseníase seja uma doença relevante. Todo problema que temos de saúde pública, de saneamento e pessoas vivendo em locais muito aglomerados, leva ao aumento de uma doença transmissível. O desenvolvimento econômico social do Brasil, que não é satisfatório, justifica esse número de casos ainda alto”, diz.

A pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Carla Lisboa Porto, destaca que a persistência da hanseníase também está associada à dificuldade na realização do diagnóstico de forma oportuna.

“Temos aspectos de dificuldade de diagnóstico e de treinamento por parte de profissionais de saúde. Temos um país de dimensões continentais, que têm diferenças sociais gigantescas, inclusive no acesso da população aos equipamentos de acompanhamento de saúde”, diz.

Para Carla o acesso à informação sobre a doença ainda acontece de forma desigual nos diferentes municípios e regiões brasileiras. Ela defende a necessidade de investimento em políticas públicas e em campanhas de conscientização.

“São medidas que não conseguem atender igualmente populações e municípios que têm características muito diferentes, seja de acesso ou de formação de cuidados da saúde. A principal causa da não erradicação e do controle da doença é o silenciamento sobre as políticas públicas com relação à hanseníase. Apesar delas existirem, não existe ainda uma divulgação de maneira mais efetiva”, afirma.

Subnotificação dos casos

Dados preliminares divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que o Brasil diagnosticou 15.155 novos casos de hanseníase em 2021, índice abaixo do registrado em 2020, de 17.979 casos. Nos últimos dois anos, observa-se que o número de casos foi bem menor quando comparado ao ano anterior à pandemia. Em 2019, por exemplo, foram notificados 27.864 casos da doença.

Em 2020, foram reportados 127.396 casos novos da doença no mundo à OMS. Desses, 19.195 (15,1%) ocorreram na região das Américas, sendo 17.979 notificados no Brasil – o que corresponde a 93,6% do número de casos novos do continente.

Para os pesquisadores, a pandemia impactou diretamente na detecção de novos casos. Os índices mais baixos podem estar associados à subnotificação da doença devido à dificuldade na manutenção da oferta dos serviços e atendimento especializado.

“Nos dois anos da pandemia, tivemos uma redução em torno de 50% dos diagnósticos. Não é que a doença reduziu, é por que deixou-se de diagnosticar quase metade dos casos pelo problema de acesso à saúde. Temos que correr atrás desse prejuízo”, afirma Gomes.

Embora a hanseníase seja tratável e tenha cura, o estigma ainda contribui para dificultar a adesão ao tratamento. “Quando as pessoas se sentem acuadas pelo preconceito ou que aquilo pode ter uma repercussão social, elas têm tanto a dificuldade de procurar atendimento como de aceitar o diagnóstico e o tratamento, que demora de seis meses a um ano”, afirma o professor da UnB.

Estratégias para reduzir a incidência da doença

No contexto da agenda sanitária internacional, a hanseníase faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). A iniciativa tem como meta o combate às epidemias da doença e de outros agravos transmissíveis, como tuberculose e malária até 2030.

No Brasil, o objetivo de reduzir a carga da doença até o fim de 2022 faz parte da Estratégia Nacional para o Enfrentamento da Hanseníase (2019-2022).

De acordo com o Ministério da Saúde, a meta poderá ser alcançada a partir da vigilância e do exame de pessoas próximas daquelas que tiveram o diagnóstico confirmado. Além disso, a pasta sugere que os profissionais de saúde façam a busca ativa para diagnosticar e tratar novos casos.

Em evento realizado no dia 25, em alusão à campanha Janeiro Roxo, de conscientização sobre a doença, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que serão incluídos dois novos testes laboratoriais complementares ao diagnóstico da hanseníase no Sistema Único de Saúde (SUS).

Os testes “GenoType LepraeDR” e “NAT Hans” são exames de diagnóstico molecular, chamados tecnicamente de PCR, capazes de detectar o DNA da bactéria causadora da doença.

A tecnologia deve ser ofertada nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens). Segundo o ministério, neste primeiro momento, 10 estados devem receber as tecnologias até o final de 2022. A previsão de expansão para todos os estados e o Distrito Federal é até o final de 2023. Um outro tipo de exame, que consiste em um teste rápido, será ofertado nas Unidades Básicas de Saúde.

Desenvolvido por pesquisadores da Fiocruz, o kit “NAT Hans” obteve registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2021. O novo método de diagnóstico foi desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com o Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), ligado à Fiocruz e ao governo paranaense.

“O teste rápido para o diagnóstico é uma grande conquista, porque temos um sistema de saúde de acesso universal tão abrangente como nosso, o Brasil é o primeiro país do mundo a incorporar esses exames e oferecê-los gratuitamente a nossa população”, disse Queiroga no evento.