quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Excesso de exercício pode prejudicar o coração

Emily Sohn
Discovery Brasil

Thinkstock/Dirima 


Ryan Shay estava no auge da forma física quando disputou a Maratona de Nova York em novembro de 2007, na esperança de se classificar para sua primeira participação olímpica. Menos de nove quilômetros depois, aos 28 anos de idade, ele desmaiou; logo em seguida, foi declarado morto.

Quando a necropsia revelou cicatrizes em seu coração, os cientistas finalmente chegaram à conclusão de que o exercício nem sempre é a melhor panaceia para a saúde, explica Peter McCullough, cardiologista do Centro Médico Universitário Baylor, em Dallas.

Desde então, um número crescente de pesquisas confirma que nenhum exercício do mundo é capaz de proteger o coração da má alimentação. Em alguns casos, é preciso tomar medicamentos para reduzir os fatores de risco de doenças cardiovasculares. O excesso de exercício pode até aumentar o risco de entupimento das artérias.

A mensagem é clara: não adianta comer mal só porque você está magro e em forma, nem praticar exercícios demais, independentemente da dieta.

"Havia uma falsa crença de que bastava fazer exercícios, mesmo comendo junk food, para evitar o entupimentos das artérias cardíacas", esclarece McCullough. "No entanto, alguns estudos comprovam que correr não previne os entupimentos arteriais, e que os exercícios de resistência extrema podem até promovê-los. As pessoas dizem: 'Eu corro, então posso comer o que quiser'. Isso não é verdade e temos que deixar isso para trás."

O exercício fortalece o coração e aumenta sua eficiência na transformação de oxigênio em energia, o que amplia as chances de sobrevivência a ataques cardíacos, doenças e até a acidentes de carro.

Já foi comprovado que o exercício moderado traz grandes benefícios para a saúde do coração. Estudos mostram que, quando pessoas sedentárias começam a se exercitar, mesmo se for apenas uma caminhada três vezes por semana, as mortes por doenças cardiovasculares caem até 25% e a expectativa de vida aumenta. Quem se exercita regularmente vive, em média, sete anos mais do que as pessoas sedentárias.

O exercício fortalece o coração e aumenta sua eficiência na transformação de oxigênio em energia, o que amplia as chances de sobrevivência a ataques cardíacos, doenças e até a acidentes de carro.

Mas novos estudos sugerem que praticar exercícios não evita o entupimento das artérias decorrente de uma dieta rica em gorduras saturadas. Isso contradiz a antiga visão do exercício como uma droga que protege o coração da aterosclerose – um acúmulo de placas dentro das artérias, que pode reduzir o fluxo sanguíneo e provocar infartos e derrames.

O excesso de exercício pode até aumentar o risco de desenvolver a aterosclerose. Em um estudo publicado na revista da Associação Médica do Estado do Missouri, McCullough e seus colegas usaram uma avançada tecnologia de tomografia para comparar os corações de 23 homens sedentários com os de 50 maratonistas que concluíram no mínimo 25 corridas. Os exames revelaram um volume maior de placas nos corredores de longa distância.

Os resultados se alinham aos de outras pesquisas, que comprovam que correr demais pode fazer mal. Um estudo de longo prazo publicado no ano passado, com 54 mil norte-americanos, revelou uma taxa de mortalidade menor entre as pessoas que correram de 8 a 32 km por semana. Já quem correu de 32 a 48 km por semana viveu tanto quanto os sedentários.

Ainda não se sabe por que correr demais aumenta o risco de entupimento das artérias, mas uma hipótese é que o excesso de movimentos de bombeamento pode desgastar as artérias, provocando uma espécie de fibrose.

Também é possível que os corações que se exercitam demais sofram de estresse crônico; a necessidade de reparar constantemente os danos provocados pelo excesso de radicais livres também é um fator de risco. 

Cerca de meio milhão de pessoas concluíram maratonas nos Estados Unidos no ano passado, e alguém morre em praticamente todas as grandes corridas de longa distância, revela McCullough. As novas descobertas são um sinal de alerta para os atletas que acreditam estar fazendo um favor ao organismo ao forçar seus limites. "Eu mesmo já fui maratonista, já corri maratonas em todos os estados do país", conta McCullough. "Mas me aposentei por causa dos resultados da nossa pesquisa."

Para quem pratica atividade física moderada, com duração de duas ou três horas por semana, também é importante lembrar que o exercício não é o único fator que influencia a saúde do coração, alerta Norman Lepor, cardiologista do Instituto do Coração Cedars-Sinai. Fumar, manter uma dieta rica em sal e gorduras trans e ter predisposição genética para doenças do coração também são fatores importantes. "Portanto, alguém pode estar em forma e ainda correr o risco de ter um ataque cardíaco", alerta Lepor. "Minha intenção não é criticar a prática de exercícios. Mas para algumas pessoas, o exagero pode fazer mal", alerta.

Os resultados causaram comoção na reunião da Associação Americana do Coração no ano passado, quando pesquisadores realizaram um seminário para discutir as novas descobertas, diz McCullough. Muitos médicos temiam que o público entendesse mal a mensagem sobre a prática de exercícios, que continua a ser essencial no combate às crescentes taxas de obesidade e aos problemas de saúde ligados ao sedentarismo.

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